sexta-feira, janeiro 14, 2011

Amor que vira doença - por Talita Lima

No final do ano quando publiquei a entrevista com o Renato e o perfil do Tico acabei não publicando  a matéria que eu mais gosto de ter feito até hoje, então segue ela em duas versões texto (matéria publicada no jornal da faculdade LONA) e em aúdio (matéria especial veiculada na programação da rádio da faculdade). E desde já deixo avisado que a matéria da rádio está diferente da escrita porque a da rádio está com menos informações (é de novembro de 2009) e a impressa está com mais uma personagem (é de abril de 2010), além claro da diferença clara na linguagem.

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Amor que vira doença - Idolatria por famosos causa problemas de relacionamento da “vida real”

Fã - uma pequena palavra que pode significar muitas coisas. A música “Exagerado”, de Cazuza, pode ser um bom tema para muitos: “Eu nunca mais vou respirar, se você não me notar. Eu posso até morrer de fome, se você não me amar”. Alguns fãs podem ultrapassar todos os limites e levar seu amor às últimas consequências.

A palavra fã ainda causa muita confusão. Afinal o que é ser fã? O que transforma um fã em um fanático? Normalmente, fã é aquele que admira e gosta de ter contato com o que ama — seja um artista, uma banda ou um time de futebol.

O problema é quando o fã não tem limites e passa a ser denominado fanático. Os fanáticos também amam e admiram. A grande diferença é que, para eles, o objeto amado é o que existe de mais importante em sua vida.

Segundo o livro “Faces do Fanatismo”, dos historiadores Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky, “há fanáticos e fanáticos. Entretanto, parece óbvio que um fanático por novela é algo bem diferente e bem menos perigoso que um nazista fanático”.

A psicóloga Silvana Drabeski diz que o fanático é o fã que trouxe para si a vida do ídolo, e isso pode se tornar perigoso. Não importa o que aconteça, ele sempre estará ligado ao ídolo. “O fanático é exagerado, adere ao seu ídolo incondicionalmente e faz tudo por ele. Dependendo do grau desse fanatismo, é perigoso porque o indivíduo para de viver a sua vida e passa a viver a do outro, e passa a sentir tudo o que a outra pessoa sente”, diz Silvana.

Foi o que aconteceu com a estudante de administração Michelle Rodrigues. “Eu dormia e acordava pensando ‘Detonautas’, eu não tinha controle, era como uma droga”. Michelle, que na época estava casada havia quase três anos, diz que seu marido não podia nem ouvir falar na banda. “No início, ele até achava legal, depois ele passou a dizer que odiava o Tico, eternamente”. A situação chegou ao limite quando ela tatuou símbolos e frases da banda pelo corpo e seu casamento terminou. “Claro que a banda não foi o único motivo, tinha outras coisas, mas pelo menos 70% da culpa foi o meu fanatismo”.

A diferença entre fã e fanático pode ser diferente para cada pessoa. Para o músico Tico Santa Cruz, o fã admira; já o fanático acredita que é dono do trabalho do outro. “O fanático pensa que pode mais que do quem faz o que ele, teoricamente, admira”, contou Tico ao LONA.

Mesmo que a ideia de fã e fanatismo sejam diferentes para cada pessoa, fica claro que existe um limite. Esse limite existe justamente para tornar a relação entre fã e ídolo saudável. Deixar com que o ídolo tenha sua própria vida e principalmente entender a diferença entre vida pública e particular. Para o guitarrista da banda Detonautas Roque Clube, Philippe Machado Fernandes, o limite saudável é justamente entender quando se pode ou não ficar próximo ao artista. “Quando é possível um bate-papo, trocar ideias, isso é saudável, mas tem gente que passa disso e que fica seguindo o dia todo, isso incomoda e é chato.”

Ter a consciência de que você tem uma vida independente da do seu ídolo faz com esses limites sejam criados naturalmente. Para a fã da banda Detonautas Anelise Brum de Oliveira é assim. Anelise é comissária de bordo, mas tem consciência de que muitas vezes muda seus planos para estar perto dos ídolos. "Eu não deixo de viver a minha vida para viver a vida do Detonautas, mas eu sei que muitas vezes eu os coloco como prioridade. Mas eu não deixo de ver minha família ou falto um dia de trabalho para estar com eles, tem pessoas que não conseguem".

Muitas vezes em busca da atenção do ídolo vale chorar, gritar, arrancar os cabelos e até roubar objetos. Uma relação que sufoca e faz mal até para quem presencia o ato. Algumas dessas reações foram presenciadas pela estudante de Rádio e TV Camila Francini Souza Gonçalves. “O que mais me assusta é que as pessoas misturam tudo, e isso faz mal. Eu não gosto de presenciar isso e confesso que até eu me sinto sufocada.” Camila conta que sempre vê demonstrações de fanatismo. “Eu vejo o tempo todo pessoas que tiram dinheiro da onde já não têm só para fazer um mino a uma pessoa que muitas vezes só quer ter atenção."

É importante lembrar que uma pessoa se torna fã porque tem uma identificação com o outro. “Se você é fã de uma banda, é muito provável que ela tenha muito a sua personalidade, fale o que você pensa”, diz a psicóloga, que completa dizendo que ser fanático não é necessariamente ser doente. “Isso depende do grau de idolatria, mas é claro que o fanático é mais predisposto a ter problemas de personalidade e a ter mais momentos de desequilíbrio do que o fã", disse Silvana ao LONA.

Todos sabem que o excesso faz mal e com o fanático não seria diferente. Para Cruz, a pessoa fica cega. “O fanatismo cega para a admiração tanto quanto para crítica. Existem fanáticos que querem criticar e estão tão cegos quanto os que querem elogiar."

Com as facilidades de contato que a internet proporciona lembrar que quem você admira é um ser humano como você pode facilitar sua vida e até mesmo fazer com se crie uma amizade como contou Philippe ao LONA. “A relação que eu tenho com os fãs do Detonautas é tranquila, eu na verdade os tenho como amigos. São pessoas que se morassem perto, eu estaria junto e convidaria para festas ou ir para a praia”.

Então se você sente seu coração disparar quando se aproxima de quem admira pode ficar tranquilo. Afinal esta é só uma reação natural criada quando existe amor e carinho.