quarta-feira, fevereiro 05, 2014

A ironia de Rodrigo Constantino

Quem é Rodrigo Constantino? Pois é até ontem, muitos nunca tinham ouvido falar dele e de repente viraram odiadores ferrenhos. Enfim, detalhes a parte eu só acho que: quem fala o que quer, ouve o que não quer. E afinal isso não deveria incomodar porque afinal ele diz que é "um liberal sem medo da polêmica".

Recado a um tal de Tico Santa Cruz
04/02/2014 às 14:33 \ Cultura, Lei e ordem

Recebo de um amigo um texto em forma de desabafo escrito por um tal de Tico Santa Cruz, cantor de uma banda chamada Detonautas (dei um Google: perdão pela ignorância, mas acho que a última banda brasileira de rock que escutei deve ter sido os Engenheiros do Havaí, pois prefiro mesmo escutar Iron Maiden e Dream Theater, já que o tempo é curto).

O rapaz fala muito palavrão, demonstra muita raiva, culpa tudo e todos pelos males do Brasil, só não parece culpar mesmo os bandidos. Esses são “vítimas do sistema”, pelo que pude perceber. Adota, ainda, aquela visão de que o verdadeiro criminoso não está nas ruas. Diz ele:

O criminoso profissional, jamais é cercado ou atingido pelos “justiceiros”. O Criminoso profissional é o que mata com canetas, papéis e não com facas ou revolveres.

Eu não creio que sejam coisas excludentes, e poderia jurar que um marginal que arrasta uma criança presa no carro durante o assalto é um criminoso profissional, um verme da pior espécie. O cantor tem visão diferente, não acha que este é um criminoso profissional de verdade.

Em seguida, o músico passa a quase justificar as barbáries desses criminosos que ele não julga profissionais:

Ou seja, se eu tenho uma vida de merda, se não fui ensinado a me desenvolver como ser humano, se não recebi amor, carinho, respeito, dignidade, desde que vim ao mundo… Por que deveria ter algum tipo de compaixão, amor, respeito ou preocupação com os demais que convivem comigo em sociedade.

Ninguém vai negar que o ambiente tem muita influência, que a miséria em nada ajuda, que as famílias desestruturadas por aí são verdadeiras fontes de marginais. Mas precisamos, também, valorizar o livre-arbítrio, pois sabemos que muitos – a maioria – que nascem no mesmo meio não se tornam assassinos ou bandidos. Essa visão do cantor, predominante na nossa esquerda, chega a ser ofensiva àqueles que vêm da pobreza, mas vivem de forma digna.

Tico Santa Cruz levanta, em seguida, o perigo dos “justiceiros”. Com esta parte eu concordo, como pode ser visto aqui. Diz ele:

O perigo dos “Justiceiros” é que eles podem começar a crer que como não há justiça nesse país, que então possam vir a decidir qual é o modelo de atuação que vão aderir e hoje começam prendendo ladrões em postes, amanhã decidem que é justo espancar homossexuais porque isso é contra a família Brasileira, na semana que vem resolvem que vão limpar as ruas dos drogados, e a sociedade dando o apoio que precisam, aos poucos os Justiceiros começam a ditar o padrão do que é certo e o que é errado, e chega um momento em que, como as autoridades não funcionam, eles passam a ser a referência de a quem devemos recorrer para nos vingar do que está errado socialmente nesta cidade, neste país.

Mas eis que o músico resolve partir para o ataque… à minha pessoa! Isso mesmo, ele acha que gente como eu é parte do problema. Diz ele:

Um tal de Rodrigo Constantino, criou um termo muito utilizado por gente que sente desprezo e preguiça de entender que tudo que acontece nesse país é fruto de nossa omissão como cidadãos. Ele provoca a “esquerda Caviar” talhando em pedra de mármore seu próprio túmulo. Porque a menos que ele e seus seguidores resolvam se isolar em ilhas, condomínios de luxo onde são prisioneiros de seus próprios dogmas egoístas, confundindo liberalismo, comunismo, socialismo e outros ismos – esquecendo que somos parte de uma engrenagem que alimenta o TODO. E que não é virando as costas e anunciando aos quatro continentes que não tem responsabilidade com relação ao quadro social que estamos vivendo, que vamos resolver as questões pertinentes a esse assunto. 
Não se trata de uma doutrina política, se trata de uma doutrina humana. 
Vivemos em SOCIEDADE, OU SEJA, SOMOS SÓCIOS – querendo você ou não. Somos co-responsáveis, embora seja mais fácil sempre colocar a culpa no outro.

Colocar a culpa no outro é exatamente o que faz Tico nesse texto. Quanto ao “um tal de Rodrigo”, eu não lhe culpo pelo desconhecimento. Assim como não escuto “rock” nacional, ele tem todo o direito de não ler o GLOBO ou a Veja. Talvez se “informe” lendo aquela revista que vive de verba estatal, vai saber! Mas criticar o uso do termo “esquerda caviar” sem ter lido, aí já é demais! Não posso deixar essa passar.

Caro Tico, leia o livro! Em momento algum defendo que as pessoas simplesmente “virem as costas” e anunciem que não têm responsabilidade por nada. Aliás, veja este vídeo meu mais antigo antes:



Como fica claro, não acho que as elites estão isentas de culpa pela situação caótica em que vivemos. Ao contrário! O Esquerda Caviar é uma dura e impiedosa acusação às elites que pregam o socialismo fracassado e as bandeiras politicamente corretas que acabam estimulando o caos!

A elite que retira a responsabilidade do indivíduo criminoso, por exemplo, tem parcela de culpa. A elite que defende mais e mais estado, impedindo o desenvolvimento econômico, tem parcela de culpa. A elite que vota no PT tem parcela de culpa. A elite que consome cocaína nas festinhas que enaltecem Che Guevara tem parcela de culpa. A elite tem muita culpa, como pode ver.

Só não vou estender a responsabilidade aos cidadãos decentes, ordeiros, trabalhadores, que sequer votam no PT. Essa visão é coletivista e injusta. Não, o rapaz de classe média que dá duro em trabalho honesto, que enfrenta o calvário dos transportes públicos brasileiros, que não defende o PT, e que gosta de seu futebol ou sua novela nos momentos de lazer, esse não tem culpa do caos. Mas é ele que Marilena Chauí, ícone da esquerda, odeia.

É um ódio, Tico, fora de lugar. O dela e o seu. Odeiam as pessoas erradas. Amam as causas erradas. Sim, o brasileiro é, na média, muito passivo, acomodado. Mas vamos mirar nos alvos certos. Vamos combater o excesso de estado, a cultura do “coitadismo”, a impunidade. Esse é o caminho para melhorar a situação, objetivo que, tenho certeza, é também o seu.

Procure se informar melhor. Verá que seu ódio precisa ser alimentado por mais conhecimento e reflexão racional também. Caso contrário, será fonte apenas de uma metralhadora giratória que acerta muitos inocentes.

PS: Vou até (tentar) escutar suas músicas para reduzir meu desconhecimento “cultural”, mas só se você prometer passar a ler o GLOBO ou a Veja de vez em quando…

PS2: Mande lembranças ao Teco!

Rodrigo Constantino