segunda-feira, setembro 04, 2017

Entrevista Detonautas: Tico fala sobre a nova fase, o rock brasileiro e a representatividade de Pabllo Vittar

Entrevista DRC: Tico fala sobre a nova fase, o rock brasileiro e a representatividade de Pabllo Vittar
Conversamos com a banda Detonautas durante sua passagem por cidade da região metropolitana de São Paulo
Por: É Tudo Cultura | Fonte: Midiorama | Atualizado em: 01/09/2017 às 12h53

Detonautas é uma das bandas que marcou a vida de milhares de pessoas. Suas músicas na voz de Tico Santa Cruz encheram diversas casas do país com o rock que também toca através das letras. E é com toda essa história que a banda segue sua carreira se preparando, agora, para lançar um novo álbum nos próximos meses.

Tivemos a oportunidade de conhecer os integrantes na passagem deles pela cidade de Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo, e conversamos com o vocalista sobre as novas músicas, o cenário do rock atual e mais. Confira abaixo a entrevista completa.



E.T.C.: Vocês liberaram a música ‘Nossos segredos’ e cantaram algumas outras hoje no show. Como estão sentindo a receptividade do público e já tem uma data para outros lançamentos?
Tico: A próxima música sai no dia 1º de setembro, que é uma parceria com o Leoni chamada “Dias assim”. Em outubro a gente deve começar a lançar em bloco. Ainda estamos pensando na estratégia porque o digital é diferente do que era antigamente, do disco que vinha tudo de uma vez só. A gente tem estudado métodos para poder fazer com que a galera se interesse pelo conteúdo e não disperse no meio do lançamento porque hoje em dia tem muita coisa acontecendo. São 30, 60 lançamentos por dia no Brasil, é difícil de conectar. Estamos tentando criar um vínculo, sentindo os shows e tudo. A própria música que a gente lançou na semana passada bateu 120 mil reproduções. Número que para gente é muito considerável contando que não temos tanto espaço e o rock não está tanto em evidencia hoje em dia.

E.T.C.: Pegando o gancho do rock não estar em evidência. Você acha que as novas bandas que estão misturando ritmos dentro do gênero podem dar uma virada no cenário?
Tico: Muitas pessoas têm o sonho de viver do rock, né? E hoje no Brasil ele representa um percentual muito pequeno no mercado fonográfico, então precisa de muita disposição para estar nessa luta. Qualquer mistura que traga novidade, qualquer banda que consiga de alguma maneira passar essa rebentação que a gente está tentando quebrar para fazer o rock circular na nova geração, é bem vinda. A gente precisa disso! As bandas que estão já há muitos anos precisam que venham os novos para poder oxigenar a cena, então depende muito de como a galera vai abordar. Eu espero que eles consigam encontrar um caminho para espalhar para grande massa. O rock não pode ficar só para o gueto, ele tem que ir para todo mundo. Não só nos nichos, temos que tocar para a massa! Esse é o meu pensamento.

E.T.C.: Você acha que a mídia tem um papel na caída do rock no mainstream?
Tico: Não acho não, a mídia explora algo que já está dando resultado. Ela só vai ali explorar e amplificar algo que já tem um expressão. O rock teve fases nos 80, nos anos 90, anos 2000 a gente entrou, depois teve a fase entre 2010 e agora que deu um hiato gigante de não ter nada na massa, na mídia. Óbvio que no underground tem milhões de bandas acontecendo, mas eu acho que para o underground oxigenar e a galera conseguir sobreviver de música, tem que ter referências em cima para galera conseguir conectar. É cíclico, né? Espero que o rock volte a dialogar com a massa.

O momento agora é da galera do rap que está dialogando bem com a juventude. Acho que temos que aprender com eles, ver como eles estão conversando com as pessoas e de alguma forma seguir por esse caminho no rock. A gente precisa renovar.

E.T.C.: Você tem um posicionamento político e social bem forte nas redes sociais, você acha que isso impacta na banda de alguma forma? Seja nas letras ou na forma como o público enxerga o Detonautas?
Tico: Eu gostaria de acreditar que não. Se a gente vivesse num país em que as pessoas respeitam a opinião das outras… mas, infelizmente, hoje a realidade em que vivemos é muito diferente. Não tem o cinza, só o preto e branco, não tem diálogo entre as pessoas, então o que estamos tentando fazer é criar essa área de diálogo. Chegar para o fã que não concorda comigo e falar que o Detonautas não é o Tico Santa Cruz, são seis pessoas cada um com a sua postura e a gente convive bem com as nossas diferenças, a gente se resolve bem. Tem que entender que uma coisa não está ligada à outra. O fato de eu ser vocalista não significa que eu sou o cara que representa a ideia da banda. A banda tem sua própria identidade, sua própria vida, suas próprias mensagens através da música, seu próprio posicionamento. Aqui temos coisas que a gente concorda e outras que não concordamos. Agora, óbvio que isso reflete na banda. Nossa tentativa é de ter essa reconciliação com nossos fãs e falar que somos artistas e que queremos a mesma coisa que eles, um Brasil melhor, que as coisas funcionem.

E.T.C.: Se o Detonautas de hoje pudesse dar um conselho para o Detonautas de 20 anos atrás, qual seria?⁠⁠⁠⁠
Tico: Eu não daria nenhum conselho, o Detonautas viveu tudo que tinha que viver. A gente não se arrepende de nada que a gente fez. Aprendemos muito com os nossos erros também. Tivemos excessos, tivemos posicionamentos que poderiam ter sido evitados, mas talvez a gente não tivesse aprendido tanto, não tivesse a consciência e a maturidade que a gente tem. Então, não dá para você desconstruir sua vida olhando para o passado e falando “Porra, não faz isso, não faz aquilo”. Não! Olhando para o futuro podemos pensar em não repetir esses erros, mas para o passado foram essas coisas que nos tornaram quem somos. Eu não mudaria nada. Sou muito feliz pelo o que a gente é.

E.T.C.: Você publicou recentemente sobre o Pabllo Vittar no Facebook, gostaríamos de saber se você escuta e quais outras músicas diferentes do rock você vem ouvindo também?
Tico: Eu tenho uma filha de 9 anos então eu já tenho uma influência de uma menina que está conectada com tudo que está rolando de música que tem a velocidade da garotada de hoje. Tenho um filho de dezesseis anos que escuta rock, zoeira de internet, funk… então eu estou ligado de alguma forma com essas pessoas que estão produzindo e atuando na música. A Pabllo eu acho que ela tem uma importância, e nisso não estou falando das músicas propriamente – conheço as faixas, escutei o álbum, tem coisas que eu gosto, tem outras que já não rola para mim – mas eu tenho nela uma referência de alguém que consegue representar uma minoria, o que é importantíssimo para a juventude, para abrir diálogo no assunto. Ter alguém como expoente respeitado que possa falar, se expressar. É nesse aspecto que eu acho que ela tem essa função. Tanto é que ela é o Pabllo e a Pabllo. Ela mexe com todas as questões que a gente tem que debater para poder lidar melhor com isso. E não só ela! Liniker, Johnny Hooker que tem um posicionamento claro com relação a gênero. Nós precisamos debater esse assunto e essas pessoas são fundamentais para fazer esse diálogo.

Por Parceiro ZOOM

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